sábado, 2 de agosto de 2008

Palavras Secas traduzem Vidas Secas



Uma história tão seca, contada com palavras áridas poderia ter morrido, após tanto tempo de publicação. Entretanto, não foi o que aconteceu com Vidas Secas. Ao completar 70 anos, essa obra encontra-se em seu momento áureo.

Graciliano Ramos, seu autor, aclamado escritor da literatura brasileira, incluído pela historiografia literária brasileira na prosa regionalista dos anos 30, encontrou em sua experiência de vida no sertão nordestino a fonte para desenvolver parte de seus escritos. É um autor que conseguiu universalizar-se por reunir em suas obras uma análise sociológica e universal do homem.

Quanto ao estilo, destaca-se por sua capacidade de síntese, ou seja, a habilidade de dizer o essencial em poucas palavras, disso resulta o seu estilo “enxuto”, que é considerado um exemplo de elegância e de elaboração.

Através de uma linguagem “seca” retratou o homem nordestino e seus problemas. Entretanto, esses elementos locais servem apenas de pretexto para discutir temas mais globais. É o que acontece, por exemplo, em Vidas Secas, onde o autor narra a história do retirante Fabiano e sua família, que vagam pelo sertão em busca de trabalho e melhores condições de vida.

As cenas narradas de Fabiano e sua família são o alicerce para retratar temas como hegemonia de poderes na sociedade, questões de ordem lingüística, já que as falas existentes durante a narração são praticamente monossilábicas, e a impotência do homem diante de um sistema social opressor.

È por tudo isso que Vidas Secas escapa da poeira que os anos poderiam lhe impor e continua sendo uma obra amplamente debatida nos meios acadêmicos e indicada como leitura obrigatória de vestibulares em todo Brasil.

Daniele Pinto
Graduanda em Letras da Universidade Federal da Bahia

Download da obra: www.ziggi.com.br/downloads/11327.asp

terça-feira, 29 de julho de 2008

Mosaico Cultural



Outro dia, estava eu passando pelo Rio Vermelho, um bairro boêmio de Salvador, quando vi uma obra do artista plástico Bel Borba. Dois orixás, abençoando os passantes do largo. Junto a estas encontramos muitas outras obras do artista espalhadas por Salvador, a maioria nos seus muros e encostas. São mosaicos que Bel, artista de rua, espalha pela cidade estreitando a ligação entre a arte e o público.

Pois bem, as gaivotas, os morcegos e os dinossauros que Bel Borba espalhou em Salvador, me fizeram ver como diferentes peças, sobre um plano, podem dar forma a alguma novidade, ou mostrar de um modo diverso algo já conhecido. Acredito ser esta a beleza e função da arte musiva: na sua complexidade e formosura, que remonta à região mesopotâmica e ao período do Antigo Egito, humanizar o espaço que nos envolve.

Aliás, é um pouco o destino de toda expressão artística, não é?! Numa recusa à nossa biologicidade mais selvagem, nós, seres humanos, transformamos a natureza e traduzimos o que existe de mais profundo em nossa alma, produzindo a cultura.

As manifestações culturais, estes mundos que imaginamos e construímos como diz o sábio Rubem Alves, conseguem dizer das coisas mais profundas de nossa existência. A poesia, a literatura, a pintura, a música, o cinema, as conquistas da ciência, a fé e muitas outras realidades são verdadeiros lugares de conexão entre as diferentes pedras preciosas, vidros e espelhos com que construímos e com os quais ornamos esta matéria prima que é a nossa vida.

As obras de Bel Borba também me inspiraram a confeccionar um mosaico um pouco diverso do que conhecemos, um mosaico cultural neste espaço que é a internet. Um encontro de diferentes temáticas, onde nem um nem outro assunto serão vistos isoladamente, mas numa composição e arranjo, formando, assim, um verdadeiro mosaico cultural. É aqui que nos encontraremos de agora em diante, conto com o seu acesso e sugestão.